A cultura popular de Tico Magalhães

Crédito: Pedro Rocha/Divulgação. Artista Tico Magalhães.
Há quem veja na ainda jovem capital Brasília um amplo espaço para criar e experimentar. É o caso do grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, que completa 12 anos de mito, sambada, cultura popular e ampla criação. No início de tudo a invenção de falar sobre a origem do mundo e o mito do surgimento do cerrado parecia ideia fantasiosa. Entre o batuque dos tambores e o ritmo do samba pisado, os brincantes do Seu Estrelo trataram de trazer à cidade as figuras que teriam o importante trabalho de contar sua história. Criado em 2004 o grupo nasceu da vontade de renovar a cultura popular brasileira e ampliar seu espaço no Distrito Federal. Percorrendo os caminhos do teatro, do sagrado e da brincadeira nasceu o Mito do Calango Voador, que entre cores, danças e brincantes, viu sua tão recente tradição ser abraçada e acolhida pelo povo da cidade.
O ritmo que move artistas e plateias durante as apresentações é o samba pisado, criado por Tico Magalhães, trazendo referência das pancadas do baque solto do maracatu e das pisadas do cavalo-marinho, variação do bumba-meu-boi. O som é tocado com alfaias, gonguê, caixas, abês e caracaxás, contando a história do cerrado que se encontra com Brasília. Há três anos o grupo criou o Centro tradicional de invenção cultural, onde mostra algumas de suas inovações, como a mistura de terreiro e picadeiro, levando o público para cada vez mais dentro das histórias.
Bate-papo com Tico Magalhães

Qual a importância da cultura popular nos tempos atuais?
A cultura popular tem algumas coisas diferentes, ela não se mostra como um produto, a gente acredita em algo a mais do que isso, falando dos mestres e tradições. As apresentações são um detalhe de todo o nosso processo de ensaios, preparo. Há 3 anos a gente criou nosso centro de invenção popular, nossa escola. Trazemos esse olhar para o antes, a criação e também para o agora, o presente.
Como manter viva essa cultura?
A brincadeira é a gente poder falar dos sonhos e criações aqui da cidade. O público também faz parte da brincadeira, tá todo mundo brincando junto. A cultura popular junta esse lado antigo da tradição e algo muito atual, nossa cultura de agora. Temos ainda a ligação com as memórias, essas memórias que carregamos no corpo, um mergulho para dentro. Queremos manter isso tudo vivo, pulsando. O nosso espaço é do Seu Estrelo, da Martina do Coco, do Boi do Seu Teodoro, de toda a cultura popular.
Qual a relação do Seu Estrelo com a cultura de Brasília?
Tudo aconteceu de maneira muito rápida para nós. Há 12 anos, pensar e trazer essa proposta de criar um mito, uma história. Contar o surgimento do mundo e do cerrado. A gente tocava o nosso samba pisado e levava aquelas figuras que o povo ainda não conhecia, como Laiá, a Caliandra. Aos poucos a cidade foi conhecendo e abraçando a nossa história. Muita gente fora de Brasília também veio conhecendo essa brincadeira nova, um som novo da cidade. Não é fácil manter tudo, mas é uma missão mesmo. Somos um dos criadores do fórum de cultura popular da cidade e fomos muito para esse lado de conseguir esse espaço da cultura popular na cidade. É uma conquista.
Como o grupo se relaciona com a cidade?
Contribuir e entender a cidade é uma obrigação de todo artista esse poder da invenção. Nosso público é muito generoso, muita gente de todo lugar, que vem com curiosidade. As pessoas hoje procuram muito ocupar os espaços da cidade. Por ser nova, Brasília propicia essa possibilidade da experiência, de experimentar e criar o que é nosso. Essa criação é descobrir o que ainda há de sonho e encantos na cidade, onde ela pulsa. Um pouco do documentário que fazemos é isso, ir nesses lugares, buscar esses lugares onde a cidade ainda pulsa, e esse pulso impulsiona coisas, brincadeiras, criações. É muito forte o poder transformador que a cultura tem na cidade.
Ponto de Cultura – Em 2010, o grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro tornou-se Ponto de Cultura. Na sede do grupo, na 813 Sul, em Brasília (DF), são realizadas oficinas populares de dança, percussão, confecção de figurinos e bonecos. Todas as oficinas são gratuitas.
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