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Foto do escritorIsabella de Andrade

Bacurau e a resistência de um povo – Crítica e diálogos em cena

Quero escrever sobre cinema no oCiclorama há algum tempo. A presença forte da narrativa, a importância da história, do diálogo. As palavras que transitam entre as imagens do filme nos transformam assim como aquelas que tanto gosto entre o palco e as páginas. Mudam as plataformas, permanece o encanto pelas histórias. Nada melhor do que começar com um filme nacional. E ainda melhor iniciar essa troca com a história de uma cidade que causou tamanho alvoroço no público. Aliás, já viu Bacaurau? Veja.

O longa é dirigido e roteirizado por Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que apostam na catarse e na originalidade narrativa para cativar o espectador. Bacurau se distancia da linearidade das histórias mais previsíveis e mostra uma virada inesperada na segunda metade do filme. Acredito que a identificação criada de maneira tão rápida com o público nacional se fortalece pela desordem política e social que experimentamos no cotidiano.

O povo da pequena cidade escondida no interior do Nordeste, longe da movimentação dos grandes centros, mostra-se muito mais consciente do que qualquer estereótipo poderia imaginar previamente. Enquanto dois representantes do Sul/Sudeste do país tentam entregar o povo aos estrangeiros, em uma tentativa falha de encontrar pertencimento com a suposta superioridade de uma elite branca e estrangeira, o povo de Bacaurau resiste. Seria a violência a única saída para o desmanche de tantas conquistas?

Bacurau e a resistência do povo

Como espectadora, experimento a resistência da cidadezinha como ponto de identificação. Por fim, vivemos a necessidade do enfrentamento, a idealização de um povo que se une para desbancar a invasão. Ao longo da história, Bacurau desponta como a única protagonista. A representação de uma cidade que permeia a trajetória de seu povo. A representação sangrenta de um Brasil escondido transforma-se em gênero cinematográfico. Acompanhamos os altos e baixos do cotidiano quente e seco no interior do país.

Por fim, os moradores da cidade se destacam mais por sua função social e cotidiana do que pela importância dessa ou daquela história de vida. O que importa é o conjunto. Do outro lado, a caricatura dos personagens estrangeiros é importante para mostrar a certeza com que propagam seu domínio. Da mesma forma, pequenas frases ganham importância ao resumir um ideal.  Como na dupla de brasileiros que abrem mão de qualquer dignidade em busca de aceitação estrangeira. “Nós viemos de uma região mais desenvolvida, mais parecida com a de vocês”.

Enquanto isso, Bacurau toma consciência da invasão e prepara suas defesas. A cidade é formada por uma única rua de terra batida. Ela é rodeada por casas, uma igreja, uma escola e um museu, representação da memória que se perpetua em seu povo. A opressão ali, enfim, não tem espaço e a recordação continua viva, latente. Que nós possamos entender o mesmo.

 





ANO:2019

PAÍS:Brasil/França

DURAÇÃO:2h11 min


DIREÇÃO:Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles

ROTEIRO:Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles

ELENCO:Udo Kier, Karine Teles, Sônia Braga

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