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Foto do escritorIsabella de Andrade

Café cultural

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Giordano Bonfim cuida das produções culturais


Alguns cantinhos aconchegantes têm tomado conta da movimentação cultural da cidade, e um que gosto bastante é o Ernesto Café, que produz e recebe cada vez mais projetos para aumentar a presença da arte entre aqueles que circulam pela capital. Neste domingo (06) o Ernesto foi palco para a primeira edição do Cafeísmo, com flashday de tatuagens temáticas. Entre o cheirinho de café e pães quentinhos, típicos de um domingo no local, três tatuadoras participaram com flashes especiais para o dia. Bru Simões (de Vitória/ES) se juntou às brasilienses Gabriela Fune e Nashari Katherin para celebrar a paixão por café junto aos frequentadores. A primeira edição do Cafeísmo é hoje, entre 10h e 19h.

As experiências culturais e gastronômicas aparecem aliadas entre os cafés brasilienses, que se transformam em espaços de intervenção e manifestação artística, contribuindo para a circulação das produções locais. Entre sabores diversos os frequentadores assíduos podem circular por feiras literárias, exposições de desenhos, pinturas, esculturas e fotografias, além de aproveitar para ouvir o som criado pelos atuais músicos da cidade. A vontade de aumentar a presença de galerias de arte, saraus de poesia, circulação literária e musical, tanto dos donos dos estabelecimentos quanto dos seus frequentadores, são alguns dos motivos que fazem com que a iniciativa se torne cada vez mais certa, espalhando-se por novos espaços da cidade. O objetivo é levar a criação artística para cada vez mais parte do público que a admira.

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O espaço conta sempre com arte e café quentinho para os frequentadores


Um dos exemplos atuais de que a iniciativa tem dado certo é a movimentada feira literária Outra margem, resultado da forte presença da literatura, lançamento de livros e saraus de poesia no Ernesto Café, inaugurado em 2011. As manifestações artísticas começaram a tomar forma praticamente junto à abertura do local, inicialmente por sugestão dos próprios frequentadores, que viam o potencial dos espaços da casa para receber shows e exposições. Giordano Bomfim, livreiro e produtor cultural do café, conta que a experiência tem sido enriquecedora e que, desde então, tem percebido a grande presença de artistas que movimentam a cidade.

A ideia dos produtores é incentivar a criação, movimentação e presença de cada vez mais espaços culturais em Brasília. “Temos muitos escritores, poetas, ilustradores, pintores, e tantos outros na cidade que têm linhas de trabalho incríveis e acabam, muitas vezes, sendo conhecidos em círculos restritos. Parte da nossa intenção com a fomentação de manifestações artísticas no nosso espaço é justamente isso: convergência. Expor criador e observadores um ao outro. Expor nas paredes do café é quebrar um pouco essa ideia de que não há espaço para a arte no cotidiano”, afirma o produtor cultural. Entre as atividades principais do local estão as exposições, lançamento de livros, oficinas e apresentações musicais.

 

Conhecendo as tatuadoras – Gabriela Fune

Brasiliense de 24 anos, Gabriela Fune é tatuadora há quase seis, e conta que, por desenhar desde sempre, foi natural o fascínio por deixar algo permanente na pele. Para a brasiliense, é preciso treinar muito e ter disposição de desconstruir antigas certezas sobre desenhos para aprimorar cada vez mais o trabalho com tatuagem. “Eu gosto de desenhar basicamente qualquer coisa, flores e animais são as mais recorrentes mas quanto menos óbvio, melhor. Acho que cada projeto pede uma solução diferente, se vai ponto, cor, linha fina. Atualmente tenho pesquisado algumas coisas de estamparia de kimono japonês, por exemplo”, conta Gabriela. Para ela, a melhor parte do trabalho como tatuadora é conhecer pessoas novas e compartilhar algo com gente de diferentes crenças, culturas e dos mais diversos lugares do mundo.

 

Confira entrevista com o produtor cultural Giordano Bonfim

Quando o café foi criado e quando começaram as manifestações artísticas? Como veio a ideia de levar arte para o estabelecimento? O café foi inaugurado em 2011, com uma proposta principal de trazer à cidade um espaço preocupado com o preparo de bons cafés, desde a seleção do grão, passando pela torra, moagem, extração e apresentação ao consumidor final. Hoje em dia essa proposta inicial se apurou, e temos na alma a questão do cuidado com o que é servido ao frequentador da casa (passando pelos cafés, pelos pães e todos os outros itens do cardápio, bem como o que se encontra à disposição na nossa vendinha de pães, nas paredes e na livraria da casa) e à atenção ao pequeno produtor – seja ele um pequeno produtor de café, um pequeno agricultor, artista ou autor independente.

As manifestações artísticas começaram praticamente junto à abertura da casa, inicialmente por iniciativa de frequentadores que viam o potencial no espaço e nós tomamos gosto. A ideia era coerente com a nossa proposta – e vem acontecendo de maneira fluída desde então. Tem sido uma experiência fantástica na qual desejamos estar cada vez mais envolvidos.

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Feira literária Outra Margem, parte da programação de eventos culturais


Acredita que seja importante essa movimentação artística nos cafés da cidade? Ela pode ajudar a suprir a carência de espaços culturais? Acredito que sim. Se formos falar de Brasília, em pouco tempo ficou claro para nós que temos uma grande gama de artistas (entre escritores, poetas, ilustradores, grafiteiros, pintores e tantos outros) que têm linhas de trabalho incríveis e acabam muitas vezes ficando conhecidos apenas em círculos restritos. Parte da nossa intenção com a fomentação de manifestações artísticas no nosso espaço é justamente isso: convergência. Expor produtor e observador um ao outro. Tirar a obra da galeria, um espaço que gera (não devia, mas gera) a alguns aquela sensação de ‘não cabe a mim ir, não entendo nada disso’ e expor nas paredes do café, quebrar um pouco essa ideia de que não há espaço para arte no dia a dia. Há sim. Combina. E, por experiência, eu posso dizer que é um processo um pouco lento, mas que vem funcionando muito bem.

Como é a relação dos artistas e do público com o espaço?

É fantástica. Buscamos sempre nos mostrar abertos. Um lugar em que se pode estar à vontade, seja para propor um novo projeto quanto para reunir os amigos e dar umas risadas entre uma xícara e outra. É interessante ver as reações às intervenções do espaço, uma exposição nova nas paredes, um livro novo na estante. O retorno é sempre positivo, tanto de quem expõe quanto de quem vê o exposto. Dá vontade (e coragem, em alguns casos) de seguir fazendo mais e melhor do que a gente vem fazendo. Não passa em branco.

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