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Como os Orixás podem ser recriados?

Foto do escritor: Isabella de AndradeIsabella de Andrade

Conheci o trabaho do fotógrafo italiano Antonello Veneri há alguns meses, quando me encantei por suas fotos que davam outra vida aos Orixás. Veneri fotografou em Salvador, criando uma mistura de fotos produzidas e instantes espontâneos capturados na cidade.

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Luma Nascimento, representando Oxum


Nascido em Trento, uma pequena cidade da Itália, o fotógrafo, que vive no Brasil há sete anos, é ex-jornalista, ex-professor de literatura e resolveu trocar as letras pelas imagens ao descobrir sua paixão pela fotografia. Veneri conheceu a capital baiana em 2006 e em 2011 passou a viver no bairro de Itapuã. O artista, que se considera baiano de coração, tem preferência por fazer imagens das cidades, do ambiente urbano e afirma que não tem interesse pelo lado bucólico da vida e sim por procurar a beleza dentro do caos, da desordem, do miolo da cidade. O fotógrafo conheceu o candomblé e se aprofundou nos estudos da cultura afro, começando a identificar em espaços urbanos de Salvador pessoas que traziam traços característicos de determinadas divindades africanas, e assim, nasceu o ensaio Orixás. “Eu não queria fotografar com a usual abordagem folclórica, antes quis entender a religião. Esse trabalho é uma homenagem a Salvador e à Bahia”.

“Como  fotógrafo documental durante muitos  não quis  fotografar o Candomblé por uma forma de respeito por esta religião. Eu não queria fotografar com a abordagem folclórica que a maioria dos fotógrafos possui. Antes  queria saber e entender. Dois anos atrás, Alessandra Caramori, Professora da UFBA de Salvador ,  me propôs um  trabalho de vídeo e fotografia (As Folhas Encantadas ) no terreiro de Mãe Stella de Oxossi, a autoridade espiritual mais importante desta religião no Brasil. Nós nos tornamos  amigos, e graças a ela  descobri que o Candomblé é a religião mais tolerante que conheci”.

Nos últimos anos o artista se dedicou a fotografar a beleza e a violência urbana, os extremos cotidianos brasileiros que caminham lado a lado. E agora, a ideia foi registrar o cotidiano de Salvador, onde realizou grande parte de seu trabalho documental como fotógrafo. Em Orixás, Veneri optou por misturar fotografias pré produzidas com as espontâneas, captadas no cotidiano da cidade. “Este ensaio foge de todos os outros meus trabalhos, que são documentais e de fotojornalismo. Nesse trabalho quis construir, produzir algumas imagens mas o meu lado fotógrafo de rua voltou, através das fotos e dos momentos instantâneos. Não tinha como não ser assim, Salvador te obriga a fotografar o que ela quer e eu deixo que ela faça isso”, conta o fotógrafo.

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A filha de Iemanjá é Sandra Santos, autora do blog Gordinhas Lindas da Bahia


Para tentar representar como seriam os orixás de hoje e que visual teriam esses arquétipos dentro do contexto urbano, Veneri saiu em busca de suas próprias divindades. No caso de Iemanjá, por exemplo, o fotógrafo queria encontrar uma mulher forte, fora dos padrões corporais atualmente estabelecidos. “Eu sempre imaginei Iemanjá assim, fora dos clichês de beleza contemporâneos”. O artista, que não se declara pertencente a nenhuma religião, afirma ter se encantado pela beleza do candomblé e quis realizar uma homenagem, um tributo, sem pretensão de reinterpretar verdadeiramente os corpos dos orixás. Veneri conta que na maioria das fotos a relação com as divindades foi percebida apenas depois que já havia fotografado.

“Este trabalho é uma homenagem a Salvador de Bahia. Grande parte do meu trabalho de fotógrafo documental ao longo dos anos  registrou o quotidiano  desta cidade. E todos os dias  percebia como a religião do Candomblé está presente no quotidiano da cidade”.

O ensaio chama atenção pela beleza das fotografias e respeito com a religião e os próximos passos incluem uma exposição itinerante. O fotógrafo se diz realizado ao perceber que quem aprecia as fotos, tem entendido sua verdadeira intenção, de homenagear a cultura afro-brasileira e, especialmente, a alma feminina da Bahia. “Salvador é isso, criação e improviso. Tudo nessa cidade se mistura e os extremos andam juntos. Beleza e miséria, felicidade e dor, masculino e feminino”, declara. Para Veneri não importava se os fotografados fossem ou não praticante da religião, vistos pelos seus olhos, os moradores de Salvador carregavam nos corpos e nos movimentos, algo da cultura que foi de seus antepassados e essa relação era percebida depois das fotografias, já que, como ressalta o fotógrafo, a cidade só deixa fotografar aquilo que ela mesma quer mostrar.

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Mestre Glausser num casarão abandonado e tomado pelo cipó no centro de Salvador, representa Oxossi


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Loo Nascimento, representando Ossain



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Matéria originalmente publicada, em parte no site : http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2016/02/03/interna_diversao_arte,516321/italiano-antonello-veneri-fotografou-personagens-investidos-dos-orixas.shtml

 

Além do bonito trabalho realizado com os Orixás, Antolelo fotografa o cotidiano urbano das cidades de diversos ângulos e um pouco mais do seu trabalho pode ser encontrado no site: http://antonelloveneri.com/

 

Confira aqui o trabalho Folhas Encantadas, dirigido pelo artista


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