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Foto do escritorIsabella de Andrade

Crônicas do Chile: Pelos caminhos de Santiago [O que fazer em Santiago]

Atualizado: 5 de fev. de 2021

Inicio minhas crônicas de viagem justamente pelo primeiro espaço em que pude pisar fora do país: Santiago.Esperei por anos pela oportunidade de começar a conhecer o mundo mais de perto e foi preciso aguardar, ansiosamente, pela conquista da liberdade própria antes de poder voar. Eu queria começar pelas terras fartas da América Latina.

As movimentadas do centro. Foto: Isabella de Andrade


As cores vibrantes, o sol como companhia, a língua diferente, mas extremamente amigável. Observo o mapa e o Chile me parece a melhor escolha. O território que se espalha longamente pela vertical caminha entre mar e montanha, frio e calor, neve e deserto.

Apesar da vontade de desbravar todo o território, tão diverso e convidativo, o tempo é curto. Escolho quatro pontos de passagem: Santiago, Atacama, Viña del Mar e Valparaíso. As duas últimas aparecem para suprir a vontade de mergulhar em outro oceano e conhecer de perto as águas geladas do Pacífico.

A pulsação constante de Santiago

Chego à capital Chilena em 9 de outubro e, sem muita experiência com grande trajetos, quero seguir o roteiro previamente montado. Primeira parada: La Chascona, a casa do poeta Pablo Neruda em Santiago. Meu primeiro dia de viagem é uma segunda-feira e lembro que, ainda em Brasília, me esqueço de destacar que muitos museus costumam fechar às segundas. Pois bem, decido seguir para a próxima opção do roteiro: Parque Metropolitano de Santiago.

A entrada para o Cerro San Cristobán


Antes, opto por caminhar um pouco pelos arredores do hostel em que hospedo, o Rado Boutique, no movimentado bairro Providencia. Minha localização é privilegiada e a poucos passos do hostel chego ao badalado Patio Bellavista. O lugar se parece com um pequeno centro de compras a céu aberto, preenchido por diferentes lojas, restaurantes, bares e deliciosas sorveterias. O espaço também conta com muita gente jovem e o melhor de tudo: pode ser visto do terraço do meu hostel.

O Patio Bellavista, em Providência


Santiago me surpreende pela atmosfera viva. Cidade grande, ainda que extremamente agradável, enriquecida por gente que caminha a toda parte. Chego ao Parque Metropolitano e subo pela primeira vez em um funicular, uma espécie de bondinho que me deixa no alto do Cerro San Cristóban. A vista é linda. Aos apaixonados pelo céu, é possível perder os olhos por um bom tempo no horizonte. Confesso que me esqueço de reparar as horas.

O céu dourado

Vista do Cerro San Cristoban, no Parque Metropolitano


Caminho tranquilamente entre o parque repleto de paisagens encantadoras e, de surpresa, o Santuário da Imaculada Conceição, com uma imagem de 22 metros de altura em destaque. Ao longo das próximas subidas, compro pelo caminho uma das famosas empanadas de carne y queso. Aproveito para comer enquanto aprecio a vista, o sol dourado que se destaca no friozinho ameno que faz antes de chegar a noite.


Observo um grupo de ciclistas que descansa na volta da subida pela trilha, algumas crianças correm entre a vendedora de bolhas de sabão e os casais aproveitam a vista incrível para registrar alguns abraços com a companhia do céu que começa a mudar de cor.

O parque é extremamente lindo e muito grande. Pisciana que sou, me perco entre a caminha e esqueço do horário marcado em meu bilhete comprado para a descida pelo funicular. Descido pedir informações e minha fraca noção de espacialidade aliada ao espanhol ainda em aprendizado, me guiam para um lado oposto ao da subida. Sigo em frente, torcendo para que consiga sair do parque antes que escureça.

Quando percebo, chego a um amplo caminho de terra rodeado de árvores. Pois bem, estou na trilha. Por alguns instantes paro e constato: “Eu não tenho a mais remota ideia de quando e onde essa trilha vai terminar”. Sigo os conselhos otimistas aprendidos ao longo dos dias e decido seguir adiante para aproveitar a trajetória.

Entre trilhas e ruas históricas

Ao meu lado passam ciclistas, corredores e pedestres com roupas esportivas. Sem muita escolha, sigo em frente com a minha pequena sapatilha nos pés. A descida é íngreme e apesar da trilha surpresa não fazer parte dos planos, aproveito a vista. O pequeno erro acaba por se transformar em acerto e faço descida enquanto observo um pôr do sol lindo que se mistura entre a paisagem.

Durante a noite, novas amigas brasileiras surgem pelo caminho como no roteiro de um filme e transformam o meu primeiro dia no Chile em uma experiência ainda mais feliz. Para conhecer o restante da cidade sigo a dica dada como um grande presente por novos amigos do hostel: a Free Walk Tour, um projeto incrível com guias jovens e excelentes que guiam uma porção de turistas durante toda a manhã e a tarde por uma grande volta à pé por Santiago.

Os grandes prédios históricos ocupam parte da cidade


Caminho entre as ruas da cidade enquanto escuto as histórias de cada edifício, espaço cultural, museu, praça e ponto turístico. Passo o dia a me divertir entre novas amigas de diferentes partes do mundo e a sensação é de que posso caminhar em Santiago por uma quantidade infinita de dias. Nos deliciamos entre a beleza quase cinematográfica do bairro Lastarria, cheio de pequenas livrarias, cores suaves e cafeterias com decoração bem trabalhada.

Dias convidativos

Em poucas horas, crio uma pequena amizade cheia de riso e histórias com uma viajante sozinha da Espanha e outra da Costa Rica. Terminamos o passeio e seguimos o dia como velhas amigas para um encontro em algum bar de Providência. Impulsionadas pelas novidades do dia, seguimos juntas para La Chascona e posso, finalmente, visitar a casa de Neruda.

Eu, feliz da vida entre os jardins de Pablo Neruda


Caminho entre escadas de caracol e jardins monumentais, móveis antigos, objetos coloridos, espaços inusitados. Tento respirar a atmosfera enquanto imagino a inspiração poética que acompanhava aqueles cômodos. Creio que o riso, nesse instante, não consegue se desfazer de ponta a ponta das minhas orelhas. Consigo ali, naquela casa, unir a paixão pela literatura com a vontade de desbravar novos horizontes.

O encantador bairro Paris-Londres


Em outros dias pude caminhar entre parques menores, visitar outros pontos culturais e experimentar alguns helados deliciosos. Sentei no banco da praça do Parque Forestal para observar o movimento das ruas e me encantei com os passos agitados dos moradores acompanhados do ritmo mais lento de quem tinha tempo a perder. Caminhei devagar entre as ruas claras e as árvores vermelhas do bairro Paris-França e respirei a diversidade de sons, silêncios, cores e contrastes que habitam a América Latina. Santiago foi absolutamente receptiva, viva e pulsante em todos os seus espaços e espero que logo eu possa voltar.

 

Livros na bagagem

Pablo Neruda


Trouxe na mochila alguns livros de autores Chilenos. Entre eles, um dos poetas mais importantes e reconhecidos de nosso século: Pablo Neruda. São dele os versos deixados logo no início dessa postagem, retirados do livro que trouxe comigo: La Barcarola. Neruda recebeu o Nobel de Literatura em 1971, consagrando-se com uma obra vasta e potente. Seu primeiro livro foi lançado com apenas 20 anos, o “Crepusculário” (1923).

O livro e filme O Carteiro e O Poeta”, de 1994, conta sua história na Isla Negra, no Chile, com sua terceira mulher Matilde. A obra de ficção passa-se na Itália, onde Neruda teria se exilado. Lá, numa ilha, torna-se amigo de um carteiro que lhe pede para ensinar a escrever versos.

 

Dicas em Santiago

Tem muito amor em Santiago


Em outro link, deixarei um texto mais direto para detalhar cada espaço visitado na capital. Além de dicas dos bairros que pude visitar e me hospedar. Inicio o retrato de cada lugar da coluna Livros na Estrada com uma crônica. A seguir, finalizo com as conhecidas dicas de viagem.

 
La Dulce Patria La tierra, mi terra, mi barro, la luz sanguinária del outro volcanário la paz claudicante del día y la noche de los terremotos. El bodo, el laurel, la araucária ocupando el perfil del planeta, El pastel de maíz, la corvina saliendo del horno silvestre, El latido del condor subiendo em la ascética piel de la nieve, El colar de los ríos que ostentan las uvas de lagos sin nombre, Los patos salvajes que emigran al polo magnético rayando el crepúsculo de los litorales, Las calles de Rengo, Rancagua, Ranaico, Lonoche, el humo del campo em otoño cerca de Quirihue, allí donde mi alma parece uma pobre guitarra que llora Cantando y cayendo la tarde en las aguas oscuras del río. (Pablo Neruda, La Barcarola)
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