Da costela do impossível
Ler poesia é sempre um espaço de descoberta. Acho desafiador o poder de síntese de um poema e o quanto de vida é possível fazer caber em um espaço tão curto de tempo. Em seu livro de estreia, Da Costela do Impossível, Marcela Alves caminha pela luz e pela sombra com uma destreza ágil e absolutamente gostosa de acompanhar. A dualidade é um tema que me afeta de perto. Luz e sombra, presença e ausência, amor e despedida.⠀
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E é por essa balança que Marcela se desequilibra para trazer um pouco da sua percepção de mundo. Uma pele que se espreme contra a grama, joelhos que se dobram sem dor, o olho como casa.⠀
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Marcela parece reinventar o espaço do corpo através da poesia e desperta uma vontade grande de passear de um jeito demorado por cada pedaço dessa geometria óssea. ⠀
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“quando eu nasci⠀
o amor garantiu⠀
que fôssemos eu e a realidade⠀
uma coisa só”⠀
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Pela poesia é possível experimentar um pouco desse olhar que parte de si para encontrar o outro. A falta de sutileza da voz fina de um adolescente que assusta os pássaros conversa com cuidado com as próprias pernas que tremem para encontrar o silêncio.⠀
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Os poemas partem do olhar atento ao cotidiano, essa matéria prima tão esparsa ao processo criativo quando aprendemos a ver com mais calma. Marcela provoca o corpo e prova da própria carne ao mostrar que a casa está, verdadeiramente, na calçada de amoras roxas.⠀
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Gosto especialmente desse trecho, que dá título ao livro:⠀
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“da costela do impossível o poema nasce⠀
e o verbo que não se faz carne⠀
também habita e ronda os azuis⠀
entre o que é e o que não pode ser⠀
há uma terceira realidade⠀
pois é dela que eu vivo⠀
e inauguro a manhã”⠀
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Esse foi meu companheiro do almoço de hoje. Um ótimo novo integrante para a ala rosa da minha estante. Leiam @amarcelaescreve e aproveitem para conhecer poetas novas!
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