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Foto do escritorIsabella de Andrade

Dancing Grandmothers e a história carregada nos corpos – Abertura da Bienal Sesc de Dança 2019

Crítica de Dancing Grandmothers (Avós dançantes) – Abertura da Bienal Sesc de Dança 2019, no Sesc Campinas

Minha relação com Dancing Grandmothers (Avós dançantes) não é sobre técnica. Enfim, ela é sobre a experiência emotiva e cativante que a companhia de Eun-Me Ahn constrói com o público. A ideia é mostrar a naturalidade e o ritmo das senhoras que formam uma geração que passou por grandes mudanças estruturais, como a Guerra da Coreia. A coreógrafa percorreu o país e pediu que mulheres de diferentes regiões dançassem, sem mais orientações. O resultado é um apanhado de vídeos que retratam movimentos alegres e sutis de senhoras de diferentes origens.

No início, acompanhamos a sutileza e a forte presença cênica de Eun-Me, que abre o espetáculo ao caminhar pelo palco com uma leveza hipnótica. Ao fundo, projeções rápidas e alternadas da Coréia dão ao público uma pequena ideia de como aquela coreografia se relaciona com o cotidiano de um país. Por fim, mostra também as circunstâncias criadas por uma sociedade. Ao longo da obra é possível entender: cada corpo carrega e reproduz uma história.


Dancing Grandmothers cria uma interessante mistura de elementos. Passando pela apresentação energética dos bailarinos jovens da companhia e por projeções de vídeos gravados com senhoras de diferentes partes da Coreia. Além da participação individual de cada componente de um grupo de avós e pela união de todos em uma grande festa.

Diversidade Cênica em Dancing Grandmothers

O emaranhado de cenas cria uma interessante narrativa que conduz o público a uma experiência diferente com a dança. Somos convidados a refletir sobre o equilíbrio entre técnica e liberdade. Sobre coreografias bem orquestradas e a leveza do corpo. Sobre juventude energética e a alegria de velhice que permite que o corpo se entregue ao movimento.

Apesar da diversidade de elementos, acredito que o espetáculo poderia ser mais enxuto. Mantendo, enfim, a mesma qualidade de transições de cena com um tempo menor em cada etapa. Alguns elementos tornam-se repetitivos ou mostram-se longos demais. A dilatação do tempo pode ser proposital. Ela causa um incômodo em nosso costume à narrativa ocidental, que se coloca com mais rapidez e menos tolerância a grandes pausas.

A inspiração de Eun-Me Ahn surge quando a artista percebe que a dança reflete sua história pessoal. Logo, reflete também a de seu país. Assim como acontece em grande parte das manifestações artísticas. Elas transitam pelo tempo enquanto contam a história de seu próprio povo. É importante entender que a geração de mulheres mais velhas, que entra no palco praticamente sem experiências cênicas anteriores, conviveu em uma sociedade conservadora. Essa sociedade permitia a elas apenas o papel de cuidar dos filhos e do lar.

A história dos corpos em Dancing Grandmothers

Quando percebemos a leveza dos corpos, a necessidade do movimento e a força da expressão que essas mulheres reproduzem ao ocupar o palco, nós logo entendemos a motivação de Eun-Me. A dança lhes permite um salto, uma liberdade pessoal e a criação de uma percepção melhor sobre o próprio corpo. Mais que técnica, dança é alegria.

Enfim, em tempos de intensa perseguição artística no Brasil, a experiência cênica criada pela coreógrafa coreana dialogou comigo de maneira forte e eficiente. Eu queria conhecer melhor a história de cada uma daquelas senhoras. Por fim, entender os caminhos percorridos por aqueles corpos ao longo de toda a história de seu país.

“Elas têm algo natural em sua movimentação e seu ritmo. Uma coisa muito especial acontece quando elas dançam. Porque por um momento em muito tempo elas podem, enfim, sentir algo bem importante: liberdade”, destaca Eun-Me Ahn.
 

Bienal Sesc de Dança

Enfim, de 12 a 22 de setembro, a unidade do Sesc e mais de dez outros endereços, entre instituições parceiras e espaços públicos de Campinas, irão receber um panorama de criações e debates que movimentam a dança contemporânea nos dias de hoje. Por fim, a Bienal Sesc de Dança, uma realização do Sesc São Paulo com apoio da Prefeitura Municipal de Campinas e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), chega a sua 11ª edição. Por fim, a Bienal reafirma seu compromisso com a difusão da produção artística nacional e estrangeira. Além de contemplar cerca de 50 ações cênicas, entre espetáculos, instalações e performances.

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