Aryane Cararo: Extraordinárias – Mulheres que revolucionaram o Brasil
Atualizado: 5 de fev. de 2021
Vamos continuar o papo sobre esse livro muito necessário da Companhia das Letras: Extraordinárias – Mulheres que revolucionaram o Brasil, da Companhia das Letras. Agora traremos a entrevista completa com Aryane Cararo, uma das autoras da obra. O livro foi escrito a quatro mãos e você pode conferir nesse outro post do oCiclorama a conversa com a autora Duda Porto.
A história não foi feita apenas por homens mas também por mulheres que não apareceram nos registros. Para Aryane Cararo, ao mostrar a importância que esses nomes tiveram em nossa sociedade, é possível inspirar outras meninas. Assim, elas se sentem capazes de seguir suas próprias trajetórias de sucesso.
A pluralidade do nosso país está entre os fatores que mais impulsionaram as autoras a mergulharem nas histórias. Elas entendem como a riqueza cultural e geográfica foi determinante para cada mudança que nos leva para a crescente igualdade de gênero. A pesquisa cuidadosa de Aryane Cararo e Duda foi o ponto de partida para a construção de um bom livro.
Pesquisa e representatividade
Cada perfil procura apresentar as raízes, educação, sociedade, luta e mudança promovida por cada mulher. A história dessas mulheres é a história das brasileiras em todos os tempos. Mulheres brasileiras raramente aparecem nos livros de história e, quando aparecem, sempre estão em um papel secundário.
Cerca de 300 nomes foram analisados para chegar à seleção das 44 que entraram no livro, o que daria uma grande enciclopédia de mulheres extraordinárias. Para a seleção, Duda e Aryane Cararo buscaram representatividade de diferentes regiões. Atuar em diferentes áreas foi outra preocupação, para mostrar que há representantes em todos os campos de conhecimento.
Conferira entrevista com Aryane Cararo
Há dois anos, surgiu a ideia de fazer o livro sobre as brasileiras que fizeram história, sendo um marco na sua área de atuação. Duda Porto me convidou para fazer parte desse projeto, fiz uma busca sobre livros desse tipo e descobri que não havia nada assim para as gerações mais jovens. É impressionante como falta registro histórico sobre essas mulheres que foram tão importantes para o país. Nossa história é, basicamente, masculina.
Mas não porque não existiram mulheres extraordinárias, faltava apenas contar esses feitos e dar o justo reconhecimento àquelas que foram um divisor de águas.
O que te impulsionou a pesquisar a história dessas mulheres?
Esse livro era uma forma de começar a contar essas histórias brilhantes, com o protagonismo que essas mulheres mereciam. No meio do caminho acabei engravidando de uma menina e o trabalho todo ficou ainda mais especial: nós estaríamos contando esses relatos tão necessários e meninas como minha filha poderiam já ver a história de uma forma um pouquinho diferente, se colocando no papel principal de suas trajetórias.
Mas deixo claro que esse não é um livro apenas para pessoas do sexo feminino, ele também é necessário para homens e meninos, porque precisamos começar a ver nossa própria história com outros olhos, os olhos da igualdade de papéis.
O processo criativo de Aryane Cararo
Como foi o seu processo de escrita para o livro?
A maior parte do tempo foi dedicada às pesquisas.Eu não sossego enquanto não tenho todos os detalhes, porque acho que eles fazem a história ficar mais saborosa. Não me basta saber que Anita Garibaldi, por exemplo, fugiu pela floresta com o filho pequeno. Eu queria saber, e contar, que ela fugiu para a mata, de camisola, montada em um cavalo, com o filho de 12 dias nos braços, em plena recuperação do parto, com todas as dificuldades inerentes de ter um bebê minúsculo e passar quatro dias no meio da floresta. Isso tudo me dá uma dimensão mais humana e fantástica de quem foi essa mulher. E assim foi com cada uma de nossas protagonistas.
As autoras Aryane Cararo e Duda Porto
Qual a importância de uma publicação que destaque a trajetórias de mulheres fortes nos dias atuais?
Este é um livro necessário. Se você procurar livros que reúnam histórias de brasileiras vai encontrar poucos (e, na época que começamos, menos ainda). O material estava disperso, escondido, se perdendo. Precisamos contar essas histórias, para meninos e meninas, homens e mulheres. É preciso que eles conheçam as lutas e trajetórias que fizeram com que chegássemos até aqui. Assim, podem justiça em nosso processo histórico.
Nossa história não foi feita apenas por homens, mas por mulheres. Elas só não apareceram nas obras e nos registros porque ainda vivemos em uma sociedade muito machista. As novas gerações têm o direito de crescer tendo uma perspectiva histórica mais justa, mais igualitária.
Atualidade das páginas
A sociedade atual já é menos machista?
Acho que temos muito a caminhar ainda. O Brasil é um país enorme, de muitas contradições, de muito desrespeito, desconhecimento e machismo. É o quinto país mais violento para a mulher. São 13 assassinatos por dia – uma violência que acomete especialmente a mulher negra. Sem contar todos os tipos de assédio, abuso e desrespeito. Uma vergonha.
Não se acaba com décadas (ou séculos) de machismo de uma hora para a outra. E estamos vivendo tempos de ódio nas redes sociais, em que essa herança patriarcal acaba ficando ainda mais evidente e o feminismo sendo diminuído, desprezado, estereotipado, condenado, numa tentativa de que essa luta seja esvaziada.
Aproveite para ler a entrevista com Duda Porto, também autora do livro:
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