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Grande Sertão Veredas: Leonardo Miggiorin fala sobre o espetáculo ao oCiclorama

Foto do escritor: Isabella de AndradeIsabella de Andrade

Um elenco talentoso sobe ao palco sob direção de Bia Lessa em um dos trabalhos mais desafiadores de sua carreira. Ao adaptar Grande Sertão Veredas, um dos grandes clássicos da literatura brasileira, atores, atrizes e diretora enfrentam o desafio de levar ao palco a linguagem diferenciada de João Guimarães Rosa. O estilo único e incomparável do escritor mergulha nas ambiguidades do sertão para transitar entre a vida e a morte, o amor e o mistério. Transformada em espetáculo, a obra ganha, enfim, ares contemporâneos e uma série de experimentações que se unem entre a cenografia, a trilha sonora, as cores e a escolha dos figurinos.

Leonardo, que é filho de militares e morou em Brasília entre os 5 e 10 anos de idade, chega pela primeira vez com o teatro na capital. O ator guarda, por fim, memórias afetivas bonitas da cidade e lembra com carinho da infância vivida entre clubes, blocos e ruas sem esquinas.

Em cena, tudo busca manter, simultaneamente, a força exacerbada da obra de Guimarães. O espaço de encenação é ocupado por uma grande estrutura metálica com ares de picadeiro ou arena. O texto foi mantido vivo e o desafio da linguagem foi uma busca permanente entre os atores. Leonardo Miggiorin, um dos fortes nomes da montagem, conta que entende as palavras do escritor de maneira mística, envolvendo-se, por fim, em uma musicalidade misteriosa.

Grande sertão veredas: Intensidade entre cenas e palavras

“Tudo te convida ao mistério. Ele não traz soluções. Além disso, esse trabalho nos desafiou em corpo, mente e alma. Eu acho que a força maior do texto é o amor, o mistério daquilo que não tem solução. Das forças opostas agindo simultaneamente, na vida, no mundo. São guerras dentro da gente, forças que a gente tem que lidar”, destaca o ator.

Leonardo lembra que transitamos por diferentes guerras internas ao longo da vida e, em sua obra, Guimarães representa com força e verdade algumas dessas guerras. O autor fala da ambivalência dos seres humanos em Grande Sertão Veredas. Amor e ódio, espiritual e carnal, dentro e fora, individual e coletivo. Somos, enfim, atravessados por inúmeras dimensões e esse é um dos aspectos mais envolventes do livro.


“São contradições humanas. E o fio condutor é o amor dos dois protagonistas, é o amor não concretizado, é triste e é belo ao mesmo tempo. O processo me obrigou a pensar muito em casa escolha, cada opção cênica, cada palavra. A Bia Lessa sempre nos pediu para fazer escolhas, darmos nossa opinião dentro daquele texto”, afirma Mioggiorin.

Transformação para o palco

Em cena, o elenco mostra um respeito absoluto ao Guimarães, mas antes disso foi preciso rasgar todo o livro, trazer aquilo tudo para dentro de cada um. No palco, cada ator-criador mostra como foi possível se apropriar daquelas palavras em um processo interno intenso. Foram oito horas diárias de trabalho árduo e uma intensa preparação corporal. “O processo me fez ver que a gente pode ir além, a gente sempre pode mais. Não devemos nos acomodar, a gente pode sempre buscar desafios maiores”, lembra o ator.

Leonardo dá vida ao personagem Zé Bibelo, enquanto isso, transita também por diferentes personagens, todos os bichos e plantas. A manifestação da natureza sempre presente, assim como no livro de Guimarães Rosa, é ponto forte da montagem. “Damos vida àquelas coisas, transcendendo entre a literatura, o teatro, a arte. Transcendemos a realidade e vamos para o imaginário. Um mergulho na fantasia”, afirma o intérprete.

O trabalho reúne diferentes linguagens artísticas e se mostra como uma experiência cênica, corporal e musical completa. No teatro, o público poderá conhecer melhor esse texto e mergulhar no Rio São Francisco pelas palavras de Guimarães Rosa e pelo corpo dos artistas em cena. A linguagem do escritor é mantida na fala de cada personagem em um intenso jogo de palavras.

“Quando começa o espetáculo é como se fosse um rio que deságua. E assim vai descendo sem parar e nós vamos descendo juntos. A plateia é convidada a acompanhar, ela tem que fazer um esforço também para entender essa linguagem, entrar no universo, no espetáculo”, afirma Miggiorin.
 

A montagem

Para dar vida ao Grande Sertão Veredas, a trilha sonora do espetáculo foi pensada para trazer o expectador para dentro da obra. Ela é composta, enfim, por três níveis: Os ruídos e sons ambientes,característicos do sertão. Logo depois, a música composta por Egberto Gismonti e os sons que representam nossa memória emotiva, com canções que fazem parte de nosso imaginário. Os figurinos são uma leitura do sertão, sem regionalizá-lo – são personagens do mundo.

O elenco de Grande Sertão Veredas é composto por Caio Blat (Riobaldo), Luíza Lemmertz (Diadorim), Luísa Arraes, Leonardo Miggiorin. José Maria Rodrigues (Hermógenes), Balbino de Paula. Daniel Passi, Elias de Castro, Lucas Oranmian e Clara Lessa. Para dar vida ao mítico sertão, Bia reuniu nomes como Egberto Gismonti (música), Camila Toledo (concepção espacial, com a colaboração de Paulo Mendes da Rocha). Sylvie Leblanc (figurino) e Fernando Mello da Costa (adereços).

 

SERVIÇO

Grande Sertão Veredas – Brasília

Dia: Sábado, 28 de julho de 2018

Onde: Centro de Convenções Ulysses Guimarães – Auditório Planalto

Horário: 20h

Classificação indicativa: 18 anos

Ingressos custam entre R$30 e R$200.

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