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Literatura em festa – Movida literária

  • Foto do escritor: Isabella de Andrade
    Isabella de Andrade
  • 4 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

Atualizado: 5 de fev. de 2021

Sabe aquela ideia antiga de que Brasília não tem movimentação cultural? Acabou faz tempo. A cidade tem fervilhado em projetos e iniciativas para divulgar, expandir e conectar nossos espaços de criação. O mais novo deles é a Movida Literária, um encontro que ocupou o mês de maio e movimentar as mesas de bares da capital com muita conversa sobre livros, autores, produção atual e o que mais surgir entre literatura e cotidiano. Eu estive presente como mediadora da mesa no dia 24 de maio, no Bar 400, ao lado dos autores Marcos Fabrício e João Bosco Bezerra Bonfim.

Foram sete noites e 14 meses de debates, reunindo nomes novos e tradicionais da prosa e poesia brasiliense. Para arrecadar fundos e fazer o projeto da melhor maneira possível, a Movida conta com um financiamento coletivo.


A ideia é que os eventos aconteçam de maneira acessível a todos e, desta maneira, foram escolhidos espaços que fogem aos tradicionais focos literários. O evento foi protagonizado pelos próprios autores da cidade, que ocuparão cadeiras de bares e cafés da capital em busca de agregar a maior quantidade possível de estilos e linguagens.


Cinco escritores brasilienses se juntaram para dar vida ao projeto: Jéferson Assumção, Nicolas Behr, José Rezende Jr., Paulliny Gualberto Tort e Maurício de Almeida. A escritora e organizadora Paulliny Gualberto acredita que a produção literária brasiliense está se fortalecendo, já que a cidade começa a mostrar uma identidade própria, aparecendo nas narrativas locais.


A diversidade de estilos, gêneros e idades é um dos pontos altos da festa literária, que pretende atrair novos leitores e incentivar novos autores independentes a colocarem sua obra em circulação. Enquanto o cotidiano nos engole, deixaremos o corpo se envolver entre prosa e poesia. O convite para os bares, mesas de debates e para a festa de lançamento se estende a todos os autores da cidade, apaixonados por literatura, fiéis frequentadores do bar e outros tantos curiosos.

 

Aproveita para conhecer aqui um pouco do trabalho e das ideias dos dois autores que participam da mesa em que eu estarei como mediadora, Marcos Fabrício e João Bosco:


Para João Bosco:


Para você, que temas são importantes para serem abordados durante as mesas de debate? Que aspectos da produção literária e poética devem ser levados ao público?

Penso que o da distribuição e fruição das artes literárias. Mas um lance para cima. De um lugar alto. E não de um vitimismo do tipo não há editoras ou espaços. Espaços há. E editoras no país, há. E blogs literários. Claro que precisamos ver se as tecnologias da informação nos favorecem no trabalho de difusão literária.


Mas – sempre tem sido assim – os jornais (impressos ou virtuais) são feitos por editores e articulistas. Então, criar espaços de difusão de uma crítica literária valorosa depende mais de articulações como essa da Movida do que de uma estrutura tradicional. O Rascunho, do Paraná, já foi principalmente impresso. E, hoje, nem por ser distribuído virtualmente deixou de ser tão consistentes.


A literatura pode possibilitar mudanças e reflexões? Você pensa nisso durante sua produção?


Todo escritor é um pensador de seu tempo, no melhor sentido da palavras. Sempre que escrevo, dedico-me a ver: como os leitores receberão minha obra. Como dizia o Mestre Drummond o presente é meu tempo, os homens e mulheres presentes. A vida presente. Então, toda literatura é reflexão. Ainda que não se declare, explicitamente. Quanto a transformações, sim, a literatura está no mundo.


Mas quem faz as transformações são os agentes sociais; os que leem; os que fruem a arte literária. Entretanto, distintamente de uma publicidade na mídia, a literatura não transforma, logo, o mundo. Vai minando as bases de uma antiga – e não mais válida ou congruente sociedade – e, um belo dia, encontramos uma força que vem da literatura para animar uma mudança.


Para Marcos Fabrício:


Como a poesia existe no seu dia a dia e de que maneira você se expressa através dela?

A escrita poética se mostrou mais presente na minha vida, entre a adolescência e a fase adulta. Encontrei no fazer poético o mergulho existencial necessário para processar uma melhor compreensão sobre os espantos e os fascínios que a vida me oferece. Quando digo vida, refiro-me tanto à realidade experimentada como à realidade inventada. Permito-me a poetizar com base na autenticidade e no fingimento.


Sempre que provocado a sair da zona de conforto, escrevo poesias e as publico tanto no suporte analógico como no suporte digital, incluindo também a divulgação performática. Tenho versos mais imediatos e, por isso, voltados predominantemente para a mídia virtual. Em livro, procuro dar voz a uma literatura mais atemporal. Nas performances, opto pelos versos que privilegiam a desenvoltura oral e rítmica. Tento poeticamente ressaltar o encontro fecundo que pode haver entre a linguagem lapidada e os tesouros da coloquialidade. 


Qual a importância da existência da poesia? Onde ela está presente?

A importância da existência da poesia se revela, por exemplo, na tomada de consciência de que somos o que a linguagem nos deixa ser. Assim, ao tentar poetizar sobre o que vivi, termino escrevendo sobre o que penso que vivi; e, ao deixar escoar por entre os dedos a matéria viva da vida sentida e vivida, sinto-me mergulhado naquela solidão dos que se percebem, não diante de sua história real, mas da sua mitologia pessoal.


A poesia está presente, quando faz da minha escrita o resultado confluente de uma memória infiel com uma imaginação um tanto excessiva. Por escrita poética, entendo todo o composto literário que, pela linguagem inusitada e perspectiva inventiva, dá sinais de que como o mundo deveria ou poderia ser. A poesia é libertária por excelência, pois incentiva a gente a desafiar a inércia da vida como ela é.  

 

Confere aqui os objetivos do projeto


1 – Reunir autores de prosa e poesia pela valorização da literatura produzida no DF; 2 – Interagir com leitores e fortalecer o sistema literário autor-obra-público; 3 – Colocar a literatura em destaque no imaginário coletivo local; 4 – Ampliar a importância da importância junto à comunidade; 5 – Divulgar a literatura produzida no DF, destacando obras dos autores locais; 6 – Promover a troca de experiências com autores de fora da cidade; 7 – Fortalecer, a partir da cena literária brasiliense.




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