Permanências
Sempre acreditei que as sensações eram nosso ponto de permanência. Existia um fio condutor, frágil, fino e extremamente arrebentável, que nos prendia ainda às mesmas vontades. Velhas sensações que se emaranhavam ao sabor da pele nova. O fio, no entanto, era feito daquela espécie de material que nos gruda nas mãos feito cola grossa. Eu olhava então, depois da distância dos corpos, da passagem do tempo e da modificação de nossas próprias essências e me esforçava por enxergar oque antes me era tão fácil, olhos pequenos e inquietos, sem medo, passado ou ilusão. Tentava arrancar o fio da pele, enquanto ele me grudava cada vez mais.Ao mesmo tempo, depois da separação tardia dos corpos, parecia inviável reconhecer os mesmos olhos. Não tínhamos conhecimento do que havia se modificado, mas ao menos, ainda nos havia algum resquício de tensão. Preocuparia-me mais com a ausência do pulso tenso e irrequieto que nos emana quando reconhecemos algum antigo pedaço de corpo alheio. Havia tensão e assim sendo, encontrei aos poucos o reconhecimento dos mesmos olhos, modificados pela presença do silêncio interno dos próprios corpos. O tempo encarrega-se de alterar apenas as sensações mais externas, estáticas, de resto, permanências. Eu nunca gostei de lugares rasos.
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