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Foto do escritorIsabella de Andrade

Próprio céu

Quanto da gente cabe em uma porção de linhas tortas e outras tantas palavras ao léu? Tem pele que, num segundo, abriga mais que a eternidade que se expande numa folha de papel. Antes que o mundo lhe escape aos olhos, fica, faz do corpo o teu poema, um sopro sem rimas, quente, feito nuvem que se rasga e reconstrói o próprio céu.

 

Há que se empanturrar de riso,

ainda que já não saibamos o tempo certo de fincar os pés no chão

ou soltá-los bem ao céu.

 

E ainda em sonho, seria assim, feito passarinho de papel.

Batendo asas entre mãos bem pequenas e os olhos, altos,

querendo também ser pássaro de céu.

 

O corpo que sente escorre a antiga pele

através da verdade que ao tempo nos sai.

Por trás da vontade entre o gosto que cansa


e se arrasta [mas nunca se esvai].

Seremos a gota, o ponto do tempo, a espera silenciosa de cada parte que,

insistentemente, nos cai.

Seremos inteiros em cada pedaço.

E mais do que nunca, seremos o todo do tempo,

de todo o tempo que aos poucos [nos vai]

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