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Foto do escritorIsabella de Andrade

Projeto Arte da Palavra promove encontros literários ao redor do país

No último dia 17 Brasília recebeu o projeto Arte da Palavra – Rede Sesc de Leituras, uma iniciativa que busca criar novos diálogos entre a produção literária nacional. Autores contemporâneos de diferentes regiões viajam pelo país e participam de debates, conversas e reflexões sobre as relações com a literatura no tempo atual. A seleção conta com diferentes gêneros e linguagens e busca mostrar a diversidade da criação literária nacional aos novos leitores.

Durante o ano de 2018, mais de 70 representantes da diversidade literária brasileira percorrerão todos os estados do país com o Arte da palavra. Brasília recebeu a escritora baiana Clarissa Macedo e o paulista Cuti (Luiz Silva) em um encontro literário mediado pela poeta Cristiane Sobral. O projeto transita entre diferentes espaços da produção literária: encontro de autores, formação de leitores e aprimoramento da escrita.

O autor Cuti enriquece o debate em Brasília (foto: Alisson Batista)


Para Clarissa, o Arte da palavra apresenta dois aspectos muito relevantes: trabalhar a literatura contemporânea em escolas, o que contribui para a formação de leitores; e fazer circular autoras/es em regiões distintas da sua de origem, o que ajuda a disseminar a palavra escrita por escritoras/es de gerações diferentes que seguem produzindo. O impacto social desse tipo de trabalho beneficia tanto quem produz literatura, quanto a sociedade de modo geral, que passa a conhecer formas diversas de entender o mundo através do texto literário.

Diversidade literária no Arte da palavra

A diversidade é uma constante no projeto e a etapa brasiliense do circuito reforçou essa ideia. O debate contou com Clarissa (uma autora jovem), Cuti (um autor negro de uma geração mais antiga) e a mediação de Cristiane Sobral (poeta negra e militante). A preocupação com a formação de leitores é outro ponto forte do projeto.

Dentre os participantes de 2018 do Arte da palavra, nomes como Daniel Galera, Stella Maris Resende, Cidinha da Silva, André de Leones e Bruna Beber percorrerão o país. Entre março e dezembro, serão realizados mais de 700 encontros, apresentações e oficinas.

Confira entrevista com a escritora Clarissa Macedo

Há quanto tempo você trabalha como escritora? Acredita que há bons espaços para escritores contemporâneos atualmente?

Comecei a escrever ainda pequena, mas a primeira publicação, que foi em coletânea, data de 2010. Acredito que a partir daí a consciência do meu lugar de fala enquanto escritora tornou-se mais patente. Olha, há espaços, mas não o suficiente para criar uma rede de leitura eficaz, que propague, de fato, os trabalhos contemporâneos. Outro ponto a ser pensado diz respeito à organização desses espaços, à forma de tratamento da leitura, quem entra nestes circuitos e de que maneira a autoria é levada para o público leitor, a finalidade maior de qualquer literatura.

Quais seriam as maneiras mais eficientes de investir na formação de novos leitores e na ampliação do público leitor no país, além de projetos como o Arte da palavra?

Tudo começa com a educação de base, o respeito à arte e o fomento à cultura. Um conceito de educação que ultrapasse a técnica. Que realce as artes e humanidades . Além da construção do exercício de um pensamento livre e despido de preconceitos é um primeiro passo.

É necessário incentivar a leitura desde tenra idade, para que os meios midiáticos massivos não moldem o gosto do público ao seu bel-prazer. A partir do momento que a leitura se torna parte do cotidiano das crianças, estas serão jovens e adultos mais críticos, conscientes do mundo ao seu redor.

Arte da palavra e a criação contemporânea

Acredita que a literatura contemporânea tem alguma característica mais forte?

Além do traço híbrido que compete tanto ao caráter formal quanto à expressividade dos temas tratados, já que temos toda uma literatura pregressa que nos move, o discurso de minorias tem conferido um grande fôlego ao texto literário. Tópicos caros ao negro, à mulher, à homo-afetividade, dentre outros, têm sido cada vez mais amplificados.

O que ocorre hoje é uma maior, ainda insuficiente, mas maior, visibilidade a estes assuntos. Salgado Maranhão me disse uma vez que a força da literatura vem de embates reais. A contemporaneidade, que me parece querer retomar o terror de uma extrema-direita-bélica-hostil, é recortada por esse clima de tensão. Isso, paradoxalmente, confere à literatura um de seus mais belos momentos. E não me refiro apenas à literatura brasileira, mas à latino-americana e às de África.

Produção criativa

Há diferenças na produção literária de cada Estado? Como é a sua produção criativa na Bahia?

Embora o mundo seja lido através da identidade, é de diferenças que somos constituídos. O que afeta também a produção literária de cada lugar, atravessado por diferenças culturais e pelo apagamento de fronteiras topográficas. Isso resulta, por um lado, em sociedades cada vez mais miscigenadas, e, por outro, numa massificação ditada por países que dominam o cenário global. Estes, disseminam, ou melhor, impõem sua “cultura” aos povos, sobretudo aos ditos subalternizados.

No que diz respeito à minha produção, é sempre caótica e intempestiva. Como viver de literatura neste país é uma utopia, trabalho muito com coisas diferentes da escrita, embora ligadas à palavra. Isso me rouba tempo de ler e escrever, duas atividades, aliás, inseparáveis.

Então, às vezes o texto fica dias querendo ser escrito, até se perder ou me sequestrar, empurrando-me para o papel. Escrever exige muita entrega. Dói quando não escrevo.

Qual a importância da troca de experiências promovida pelo Arte da palavra? Como ela pode contribuir para enriquecer a nossa literatura?

É a partir do outro que nos construímos melhores. Quando entramos em contato com experiências de leitura-escrita-vida diferentes, conseguimos sair da caverna. Vivenciar o outro nos torna mais ricas/os em experiência e cultura. Nos despindo de preconceitos e mostrando outros horizontes, possibilidades que sequer imaginávamos. Todo mundo ganha em aprender mais. E aprendendo mais, a literatura nasce melhor.

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