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Foto do escritorIsabella de Andrade

Quando a literatura infantil esclarece para os adultos o universo das crianças

Por: Adriana Bertolucci e Dayla Duarte

Pense nuns meninos danados, numas meninas impossíveis…o que está se passando por essas cabeças?!

Quem sabe a literatura infantil não ajuda a descobrir?!

Enquanto relíamos os livros que escolhemos para partilhar com você neste post de hoje, começamos a perceber que não importa a época da vida: sendo adultos ou crianças, vez ou outra vamos reagir com agressividade, histeria, choro, chantagem… Enfim, reações boas ou más, pois somos todos humanos. E em qualquer fase da vida nossa dificuldade é a mesma: reconhecer nessas atitudes negativas algum tipo de mensagem, e dar espaço para ouvi-las. Afinal, os sinais que não são verbalizados muitas vezes não são fáceis de serem notados e interpretados.

Talvez a diferença entre adultos e crianças seja a consciência e a possibilidade de discernir qual a melhor maneira para expressar a mensagem que se quer: escrever, falar, pintar, cantar… Adultos podem deliberar o tipo de mensagem que querem emitir, ou têm mais clareza em relação à escolha dos diferentes tipos de expressão.

Dentro do mundo da literatura infantil, cada nova mediação de leitura que fazemos nos confirma e nos ensina essas outras possibilidades de leituras: pelas palavras, pelas ilustrações, pelo projeto gráfico, pelo tema, pelos personagens, pela calma e pela atenção que ler um livro solicita. Assim, aprendemos a nos relacionar melhor com os outros e com nós mesmos, ao nos lermos dentro de um texto.

Para o momento de hoje, escolhemos três livros que nos mostram como uma criança, algumas vezes, pode ter dificuldade de se expressar pelas palavras, e como os adultos podem compreendê-las através de seus gestos

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Príncipe Pedro e o Ursinho

Autor: David McKee

Editora: Martins Fontes

David McKee é um autor que conversa francamente conosco sobre temas que por vezes preferimos “deixar para lá” ou lhes dar uma “capa de invisibilidade”, mas sua abordagem não perde a ternura ou a plasticidade artística. Para leitura e interpretação de suas histórias não se pode saber ler somente as palavras, é preciso estar atento as ilustrações, bem como na vida real, que nem tudo que é dito, se diz por palavras: o corpo fala, as emoções gritam, colocam “uma melancia na cabeça”, mas nem sempre todos conseguem enxergar.

Neste livro, por exemplo, Pedro, o príncipe, fará aniversário em breve e expressa como desejo de presente ganhar um ursinho. Porém, seus pais ofertam outros objetos aos quais o menino recusa sempre “deixando claro o que deseja”. Por todos os cenários que passa até o dia em que ganha o presente, se vê o caos, a aparência da passagem de um furacão. Será que conhecemos crianças assim? Será que agressividade, indisciplina, não podem ser a maneira de dizer algo?

Dia do aniversário, presente recebido, um tanto quanto pesado, mas afinal era o “ursinho” solicitado. No passar das páginas vemos que em nenhum momento, até essa parte da história, rei e rainha, pai e mãe, olham para os olhos de seu pequeno príncipe, o abraça ou se interessam pelo o que ele diz. A criança vai dormir e consigo leva seu presente. Mas no meio da noite, o soluço de um ursinho de ouro maciço o acorda pedindo um abraço. Pedro resiste inicialmente, afinal ele é duro e frio, mas o ursinho insiste em ter a chance de receber carinho.

Pela manhã, o ursinho estava mais macio. Pedro abraça seu pai, abraça sua mãe e algo surpreendente acontece.

Olha o olho da menina 

2

Autora: Marisa Prado

Ilustrações: Ziraldo

Editora: Planeta das Crianças

Contar mentira! Sentir-se só! Quem nunca?! Criança, adulto, pouco importa a idade. Nessa história, Menina cresceu escutando que não adiantava mentir, porque Mãe sempre sabia a verdade, e que crescer sozinha é difícil.

Eis a saga de nossa personagem na busca por descobrir como esses mistérios acontecem! E dá-lhe treinar no espelho, fingir de olho aberto, fechando com força…mas de noite, um aperto no peito, uma inquietude na cabeça, não a deixava dormir. Mesmo quando não tem mãe para saber, vem a consciência aparecer. Aí dá desânimo de crescer, mas como ela não conseguia impedir, resolveu pedir ajuda a mãe: afinal, é difícil crescer sozinha!

E descobriu que mãe nem tudo sabia, e que ser gente grande também doía. Mas carinho espanta solidão e dor que se divide fica menos doída e a vontade de crescer, volta para manter a vontade de conhecer o resto das coisas.


Petit, o monstro

Autora e ilustradora: Isol

Editora: Mov Palavras

Petit era um menino bem normal. Desses que fazem coisas boas e coisas más. Mas lendo o livro descobrimos que nem sempre Petit sabia o que era “mau” ou “bom”. Ele só sabia que no final algum adulto iria julgar sua atitude, mesmo sem ele compreender o porquê. Entretanto, de tanto ouvir os outros falarem que ele era um menino mau, Petit passou a acreditar. “Será que sou algum tipo de monstro inclassificável?”. Porque de no fundo, Petit não compreendia exatamente aonde estava a maldade. Machucar passarinhos, não dividir os brinquedos, não ter facilidade em matemática, deixar uma copo de vidro cair… Tudo isso é ser mau? No final das contas, o que Petit queria mesmo era um manual de instruções…

Na verdade, o que faltava para Petit eram esclarecimentos…

O menino sabia que era bom em algumas coisas e mau em outras. E dessa mesma forma ele julgava sua mãe: Boa porque o entendia, e má porque o deixava sem sobremesa. Para Petit, isso sim era ser má.

Petit, o monstro é um livro riquíssimo da fantástica Isol, que mostra alguns detalhes dos sentimentos das crianças. Nos faz refletir sobre nossa postura em relação a elas, o modo como as julgamos, as tratamos e como agimos quando queremos impor nossas vontades de adultos. Petit ensina a seus leitores que criança tem dúvidas e necessidades de esclarecimentos como qualquer pessoa. Será que sempre que exigimos alguma coisa de alguma criança, damos alguma explicação sobre o porquê ou como?

Esses três títulos são excelentes para crianças em início de alfabetização, pelo tamanho das letras e pelas fontes utilizadas. E bons também para crianças e adultos de todas as idades. As três obras são boas oportunidades de olhar para si e para os outros com novo olhar.

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