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Foto do escritorIsabella de Andrade

Quando o teatro alcança a real troca, o que ficou de Tomorrow e Adaptação.

(Cena Contemporânea 2014)

É tão bom quando um espetáculo consegue nos tocar, envolver, despertar. Por vezes vejo algo que me remexe de tal forma que entendo perfeitamente o porquê de ter escolhido continuar na arte. Aconteceu com Adaptação e logo em seguida, Tomorrow. De alguma maneira eles se complementaram em mim. Saí diferente, houve troca, a tal arte que inspira a compartilhar o pensamento criativo.

Em Adaptação, entrou no palco uma alma nua. Sorri ao escutar sobre a dificuldade de compartilhar-se na vida e que, de alguma maneira, acontece no palco. A arte pode ser um escape que nos alivia de nós mesmos. Sentei e escutei um rosto, até então desconhecido, me falar de maneira calma e sutil, trazendo a maior identificação que eu poderia ter. Esqueci que era plateia. Entregue a todos os olhares, ela estava ali, sozinha. Adaptar-se, de maneira tranquila, ao fato de estar só em um mundo que grita por gente e companhia em excesso. Foi ali o primeiro susto. Foi ali o primeiro respiro. Adaptar-se ao olhar do outro. Sorri novamente, lembrando o quanto sempre ressaltei (em mim mesma) a importância de me reconhecer, de respeitar a minha própria verdade.

Em Adaptação tive mais uma vez a certeza: coisa mais gostosa do mundo entender e conviver com quem se é, e esquecer quem se foi em resposta ao que outros queriam que você fosse. Gabriel F., me emocionou de maneira singela, sutil, verdadeira. A atriz, de fala calma e olhar profundo, conseguiu me fazer entender que vale a pena cada esforço por permanecer dono de si. Aquela tal de essência que carregamos. Sem gritos, excesso de gente ou barulho, sem força, sorridente, tranquila. Aplaudi com um sorriso leve no rosto. 

Em Tomorrow, a certeza do tempo assusta. 70 minutos de um susto só. Ao final veio o respiro, meio ressabiado, meio catártico. Envelhecer assusta com a percepção de que o tempo corre e nos agarra pelas mãos sem a menor formalidade. Depois me veio a conexão e as duas histórias se complementaram: adaptar-me, tranquilamente, ao melhor que tenho de mim, ao sincero, a essência que me pertence, à minha verdade própria e assim, de alguma maneira, a passagem do tempo pode parecer menos assustadora. A certeza de pertencimento me tranquiliza. Talvez crescer, sem envelhecer, seja ter tranquilidade.


(Foto de divulgação: Peça Adaptação, com Gabriel F. Teatro de Açúcar – Cena Contemporânea 2014).

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