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Foto do escritorIsabella de Andrade

Tino Freitas fala da relação com a literatura infantil e da importância de fantasiar

Tino Freitas, cearense, se encantou por Brasília desde a primeira vez que visitou a cidade, em 1999. A experiência de vivenciar uma cidade de espaços amplos e diversos fez o menino voltar de vez anos mais tarde, agora graduado em jornalismo.

Entre as ruas do cerrado, Tino Freitas viu nascer o encanto pelos livros infantis e se apaixonou de vez ao criar o projeto Roedores de Livros ao lado de sua ex-esposa, a arte-educadora Ana Paula Bernardes. Para ele, fantasiar é criar e vivenciar algo que não existe. “Tudo que o homem criou foi antes fantasiado por ele”, destaca.

Como não poderia deixar de ser, Tino Freitas foi um dos importantes nomes da produção literária brasiliense a figurar na programação da 34ª Feira do Livro de Brasília. O tema deste ano não poderia dialogar melhor com o autor: Literatura infantil – A invenção do sonho. Vamos brincar de inventar? 

Confira também aqui a participação do Mulherio das Letras na Feira do Livro.

Diálogo entre plataformas


Tino Freitas acredita que a influência da internet na relação das crianças e jovens com a literatura se dá na partilha, bem como na conversa em que o livro entra como um elemento importante. Ele lembra que um livro sempre é novo para quem o abre a primeira vez. Não tem idade. Talvez, pelo conteúdo, valha a pena saber sobre o tempo e o lugar em que foi escrito. E isso tudo também é mediar leituras.

Leitor ávido e, do mesmo modo, um criativo mediador de livros, Tino Freitas destaca a necessidade de propor, no Distrito Federal, que o governo se mobilize ainda mais para ações de incentivo à leitura literária, como a compra de acervos e manutenção das bibliotecas escolares.

Confira entrevista com Tino Freitas

Quando você começou a escrever literatura para crianças e o que o motivou na escolha desse público?

Escrevi o texto do meu primeiro livro (Cadê o Juízo do Menino?, il. Mariana Massarani, Brinque Book) em 2008 e ele foi publicado em 2009 pela editora Manati. Muito do que aprendi sobre Literatura Infantil, aprendi com minha ex-esposa (Ana Paula Bernardes) e com as atividades do projeto Roedores de Livros (projeto criado por ela em 2006 e que funciona nas manhãs de sábado no Shopping Popular da Ceilándia).

Pelo projeto fomos convidados para eventos por todo o Brasil para contar sobre nossa experiência de Formação de Leitores a partir da Mediação de Leituras. Nas viagens, nos aproximamos de escritores, ilustradores e editores. Nesse caldeirão de influências tive o desejo de escrever uma história. E assim, em 2009, nasceu meu primeiro livro.

Qual é a importância de incentivar a leitura para esse público?

Fantasiar é criar/vivenciar algo que não existe. Tudo que o homem criou foi antes fantasiado por ele. E muito do que foi criado no século XX e XXI, provavelmente foi criado por leitores. O escritor Bartolomeu Campos de Queirós costumava dizer que, ao exercitar a fantasia (é isso que um bom livro de Literatura nos permite fazer).

Estamos oferecendo aos leitores de qualquer idade, entre outras coisas, a possibilidade de que eles possam criar algo que traga um bem maior para si, para sua família, para seu bairro, para a sua cidade, para o mundo, quem sabe. Incentivar a leitura desde a infância, oferece a todos nós, pensando globalmente, a possibilidade de vivermos num mundo mais justo (Tino Freitas)

Literatura e novos espaços

Qual a sua relação com blogs, canais e perfis literários? Acha que esses espaços são um bom caminho para atrair leitores das novas gerações?

Acho que as redes sociais ajudam e muito a amplificar o olhar do leitor. Tem um alcance enorme. Muito além dos (poucos) canais tradicionais como projetos de leitura, livrarias, bibliotecas. Recentemente, a blogueira Jout Jout causou um enorme alvoroço no meio da Literatura Infantil ao se mostrar emocionadíssima com a leitura de A Parte Que Falta (Shell Silverstein, Cia das Letrinhas).

Mostrou ao seu público “adulto” que é possível se emocionar com um livro ilustrado, visto muitas vezes como um objeto PARA crianças. Mas o que faço é Literatura. O adulto pode ler. A criança também. Os dois podem se emocionar com isso. Pois é Literatura também para crianças (Tino Freitas).

Você acha que essas plataformas podem influenciar o público mais jovem a ler mais? O caminho mais eficiente seria conectar livros e tecnologia?

Além da literatura, Tino tem forte relação com a música e utiliza a linguagem em suas mediações literárias


Não acho que seja imprescindível unir tecnologia e livros. O livro, como o conhecemos hoje, após a invenção da roda, é uma das tecnologias mais antigas ainda em uso. E isso é fantástico. O que acho é que o ser humano, mais que as plataformas, ainda é o elo mais importante para conectar leitores.

A relação com as páginas

Ao ver alguém que se admira, que se ama – seja um artista, uma namorada, um pai, um avô, um professor – que leia com paixão, é muito provável que, da mesma forma, se queira partilhar daquela experiência. Então é preciso tesão (força, intensidade, ímpeto) para se conquistar leitores. Na maioria das vezes, dá um trabalho danado. Mas seja com ou sem apoio tecnológico, é preciso dar acesso aos livros e mostrar que partilhar leituras é um ato de amor.

Enfim, que diálogos você busca criar com esse público?

Acho que a Literatura – de qualquer gênero – deve tratar do que move o homem. Hoje busco escrever usando da tecnologia do papel (pensando histórias em que o objeto livro surpreenda o leitor e ajude a compor a história, servindo mais do que um simples suporte para texto e imagem), e desenvolvendo histórias com temas mais “urgentes” e ainda pouco tratados na Literatura Infantil como igualdade de gêneros e pedofilia.

O que acha mais importante em conclusão e o que busca levar em sua obra?

A Literatura Infantil pode divertir, brincar, emocionar. Da mesma forma, de maneiras diversas quero escrever histórias que provoquem emoções no leitor. Que nada tem de infantil, no sentido bobo da palavra. Ainda mais, no sentido de viver melhor a sua infância. Afinal, aquilo que mesmo adultos, carregamos no peito como, muitas vezes, os melhores momentos das nossas vidas. E para isso, é preciso escrever com talento, com arte, com suor e com criatividade. Difícil isso mas, enfim, sigo tentando.

 

Por fim, confira entrevista com Lucília Garcez e Clara Arreguy, que também participam da Feira


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