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Foto do escritorIsabella de Andrade

Bem

E antes que fosse possível ao menos distinguir aquele seu esboço borrado de gente que se aproximava de longe, tratei de lhe vomitar todas as verdades. Contei do dia em que dormi escondida na lama e daquele outro em que comecei a cuspir flores. Falei da minha vontade exasperada de fuga e do embrulho que me causava falar de amores. Contei da parede mofada, o teto escuro, o esconderijo envolvente e a unha encravada. Mostrei a cicatriz do estômago, o emaranhado dos olhos, o dente afiado e a língua desgovernada. Falei dos papéis amassados, do monte de lixo, da fuga permanente e da respiração atrapalhada. Abri os olhos e não me restava mais nenhuma bonita ou porca verdade. Tive a certeza inquestionável de que teria espantado para longe, outra vez, toda e qualquer necessidade de explicação ao tempo, inquestionável. Perdi o fôlego quando pude ver, teus olhos, impávidos, ainda me olhavam.

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