Bistrô: Ídolos e mortais se encontram entre o sonho, a criação e a verdade
Um Bistrô movimentado por grandes nomes da cena artística mundial foi criado para dar vida a uma série de sonhos. Frida Kahlo, Salvador Dalí, Clarice Lispector e Tom Jobim revivem seus dias em um espaço de vivência cotidiana e questionamentos. Qual o seu desejo reprimido?
Entre as perguntas centrais do espetáculo, dirigido por Marina Oliver e Marcelo Nenevê, repousam as relações cotidianas, por vezes quase banais, irrelevantes e até mesmo cruéis. Desejos e inspirações se encontram na irrelevância das experiências do dia a dia. Por fim, a peça fica em cartaz no Canteiro Central e é apresentada todas as terças-feiras de setembro, às 20h.
No bistrô, surge a relação inesperada entre figurões da arte, imortais, mundialmente conhecidos e uma pessoa comum, um burocrata local. Como confluem, como conflitam as visões desses dois mundos, simultaneamente, em um ambiente corriqueiro, como um café. O teatro, o sonho e as histórias são irrelevantes?
Enfim, a linguagem do espetáculo é leve, com influência da comédia de costumes, sátira e sutileza permeiam o humor do texto. Marcelo Nenevê, um dos diretores da montagem, lembra que, para quem quer se divertir, Bistrô é, enfim, um prato cheio, mas não é raso.
“No encontro entre sonho e realidade que espetáculo propõe surgem camadas mais profundas, enfim, por vezes trabalhadas com humor, por vezes servidas cruas”, destaca.
Encontro com o sonho
Em cena, histórias de um encontro. Se você pudesse encontrar um ídolo para um café ou um uísque como seria? É a história de um encontro meio sonhado, meio real entre artistas desconhecidos e conhecidos do passado, do presente, do futuro, de realidades alternativas. As biografias de Salvador Dali, Tom Jobim, Frida Kahlo e Clarice Lispector temperam a peça, engrossam o caldo simultaneamente, mas são servidas em meio a esse encontro, não separadamente.
Nenevê conta que o Bistrô se alinha a questionamentos dúbios das artes cênicas. O teatro aparece como essa possibilidade de devolver à vida a grandes artistas, materializar sonhos e torna-los reais. Ele se fortalece ao trazer o passado para o presente, inventar futuros, existências inteiras, modificar biografias.
“Frente a essa realidade mágica irrelevante é o cotidiano. Mas será mesmo? Não será essa apenas uma projeção de um artista e as miudezas do dia-a-dia é que formam o que importa na vida? Essa é a principal discussão do espetáculo”, lembra o diretor.
Um dos pontos de partida para a criação do Bistrô é a complexidade de fazer teatro cotidianamente em um espaço em que teatro é visto com um artigo de luxo que, em momentos de crise, pode simplesmente deixar de existir. Por fim, sobram poucos espaços e, para os artistas, o teatro passa a ser um hobby?
Espaços não tradicionais
A diminuição dos espaços físicos de artes cênicas na cidade inspirou a criação de um espetáculo feito justamente para espaços não tradicionais, como cafés, bistrôs, bares. Para o diretor, o artista passa a compartilhar o espaço de cena com a cidade. Por fim, a ideia é continuar com a montagem em temporadas que transitem por diferentes espaços de Brasília.
“A iniciativa do Teatro Bar tem essa mesma cara, acontece as terças, o Canteiro Central é em um espaço inicialmente dedicado a outro tipo de encontro. Transformar o bar em um teatro mobiliza, enfim, a ideia de teatro enquanto algo que depende da edificação, da estrutura de um teatro para acontecer, que só acontece aos fins de semana”, afirma o diretor.
A peça foi criada a partir de inspirações que surgiram com o filme Meia noite em Paris, de Woody Allen. Logo depois, Marina Oliver, uma das diretoras do espetáculo, conta que pegou como base também a obra As gavetas de Dali, onde um corpo é exposto com gavetas abertas dentro. “Usamos essa metáfora de abrir gavetas e, simultaneamente, revelar segredos, desejos reprimidos. Nessa nova montagem, trazemos o discurso do fazer artístico, enfim, o que é ser artista”, destaca.
O Bistrô e suas narrativas
Enfim, a escolha dos grandes artistas que ganham vida novamente no espetáculo veio pela inspiração que suas obras criam até os dias atuais. Para Marina, todos bebem dessas fontes e de várias outras pra criar um espetáculo, uma música, uma poesia, um quadro. “Por fim, acredito que eles me ensinam e me mostram o caminho do fazer artístico que eu escolhi e acredito. Independente do que você faça ou do curso que se forme, a arte está junto”, destaca.
A história do Bistrô é centrada, enfim, na boemia e na discussão entre o fazer artístico, o cânone e as possibilidades da produção brasiliense e do DF. No palco, diferentes encontros são possíveis e o elenco convida o público a experimentar um pouco dessas inúmeras possibilidades. Passado e presente se encontram para questionar, de maneira leve, a importância, a sutileza ou a irrelevância das coisas.
Serviço
Quando: De 04 a 25 de Setembro, sempre às terças-feiras, às 20h Onde: Teatro Bar no Canteiro Central (Setor Comercial Sul Q. 3 BL A) Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia) Classificação indicativa: 14 anos Informações: espetaculobistro1@gmail.com
Duração: 60 minutos
FICHA TÉCNICA Direção: Marcelo Nenevê e Marina Olivier Elenco: Félix Saab, João Quinto, Karoliny Rodriguez, Larissa Souza e Marcos Davi Músicos: Iuri Gules e Mateus Timponi Figurino: Marina Olivier Roteiro: Grupo Iluminação: Luisa L’Abbate Produção: Ana Paula Martins, Karoliny Rodriguez e Marina Olivier Apoio: CAL – Casa de Cultura da América Latina – UnB, Capital Café e Teatro Bar
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