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Foto do escritorIsabella de Andrade

Livre: Boas dicas de leitura para tempos de caos

Atualizado: 5 de fev. de 2021



O festival e o livro Livre foram idealizados por uma escritora forte e resistente de Brasília, Paulliny Gualberto Tort. Ao seu lado, outras cinco mulheres incríveis e talentosas, acompanhadas por dois escritores, deram voz a um livro que clama por um suspiro de liberdade. Entre as páginas, contos escritos por gente que acredita na literatura enquanto força transformadora. Por fim, Livre é uma obra que busca manter a sanidade em tempos sombrios.


As primeiras  páginas são estampadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, tão esquecida e atormentada nos anos em que vivemos. Logo depois, uma junção de narrativas potentes escritas entre os mais diversos estilos por escritoras com trajetórias tão diferentes. Tenho que dizer, o brilho deu-se por elas.

Foto: Mariana Costa


Beatriz Leal escreveu o conto Maçaneta. Apesar da pouca idade, exala maturidade entre as palavras e uma habilidade certeira com o ritmo da narrativa. Enfim, dá vontade de continuar, ler rápido, degustar, saber os próximos passos. Em Conceição Evaristo, que escreveu Do lado do corpo, um coração caído, o brilhantismo dos longos caminhos percorridos entre a literatura.


Com poucas palavras, Conceição coloca luz em direitos tão importantes e que correm sério risco frente a um preconceito que se espalha sem meias palavras. Por fim, no chão, uma mulher que experimenta o corpo de maneira diferente ao que lhe esperavam quando nasceu. “Quem matou minha menina?”.


Das águas, de Cristiane Sobral, o axé e o sofrido experimento cotidiano que busca refúgio nas águas abençoadas do rio. Rapidamente, a autora consegue colocar em cena um apanhado de histórias e vivências poucas vezes retratadas. O livro nos mostra, a cada novo conto, a importância de espalhar, simultaneamente, em diferentes mãos, bocas e olhos a possibilidade de dar vida às histórias. Outras vozes circulam entre as páginas de Livre e experimentamos o sabor da diversidade que verdadeiramente nos forma.


As múltiplas linguagens de Livre


Em Mangada, de Natalia Borges Polesso, a doçura da liberdade entre as primeiras experiências e a delicadeza de uma narrativa bonita e cheia laços. Em Jardim de Ossos, de Lisa Alves, um pouco da poética bruta e do experimento narrativo transitam com facilidade entre as páginas. Boa prosa entre um bocado de questionamento, tortura e liberdade cerceada.


Em Mulher Cobra, de Sheyla Smanioto, um tanto esparramado da falta de liberdade que ronda entre nós, mulheres, diariamente. Olhares que matam, gestos que finalizam. Há ainda as relações confusas que permeiam Laurinha, dona Laura, de Paulliny Gualberto Tor. Enfim, dependência, carinho, falta e medo da solidão se misturam em uma complicada rede cotidiana de afetos entre desiguais.


Por fim, ao adquirir o livro o dinheiro era automaticamente revertido para a Anistia Internacional. Livre é um experimento que me dá muito orgulho de ter nascido entre as ruas de minha capital. Um fôlego de produção criativa para nos ajudar a atravessar o caos que nos confunde um tanto os dias.

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