O rio e a eterna passagem
- Isabella de Andrade
- 28 de set. de 2015
- 1 min de leitura
Já pensou no quanto é frágil todo o espaço de sensação permitida? E no quanto nos perturba a ideia de que não somos únicos, eternos, insubstituíveis, indecifráveis? Somos a passagem de um tempo em algum ponto de coincidência esbarrada. Somos um bom dia na calçada, ainda que tentemos nos agarrar à ideia de que somos, enfim, a plenitude presente em toda a calçada. Somos um respirar momentâneo, uma dúvida solta no espaço em que dois olhos se permitem enxergar. Somos a descontinuidade dos sorrisos prolongados por nossas próprias incertezas. Já pensou o quanto era incerto aquele primeiro caminhar? Somos um instante que teimou em fazer-se eterno, e como haveria de ser, não se fez. Encontramo-nos então com a construção temporariamente estática das palavras, do traço, da ideia, da criação. Criamos na tentativa indestrutível de não nos deixarmos de ser e assim, não deixaremos. Todo rabisco, ainda que não declarado, faz-se instante eterno. Um fiapo de nada separava o segundo sobressaltado entre o ontem e a espera pela própria eternidade. Naquele tempo, saberia subir em todas as árvores, ver de cima todos os temores, correr até o fim da mais inacabada margem, transpirar pelos poros todos os horrores. Era sonho? A crença é uma escorregadia margem.
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